Brasil
Casos de xenofobia no Sul levantam debate sobre o tema
No final do mês passado, três homens que trabalhavam na colheita de uvas na região de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, resolveram denunciar as péssimas condições em que viviam. Com salários baixos e atrasados, eles dormiam em alojamentos sujos (de onde não podiam sair) e recebiam pouca comida.
Logo depois da denúncia, mais de 200 trabalhadores foram resgatados na mesma situação – a maioria baianos. O caso ganhou os jornais do Brasil inteiro, por se assemelhar à escravidão. Para piorar, um vereador de Caxias do Sul afirmou que os empresários não deviam contratar mais “aquela gente lá de cima”, em referência aos profissionais do Nordeste, e cometeu um ato de preconceito contra pessoas de outras origens e culturas diferentes.
Você sabia que esse tipo de atitude tem nome?
Chama-se xenofobia. Talvez você ainda não tenha ouvido essa palavra, mas é algo que acontece desde a Antiguidade e se intensificou conforme povos diferentes foram se conectando através dos tempos.
O termo vem das palavras gregas xénos, que quer dizer “estranho, estrangeiro”, e phóbos, que significa “muito medo ou aversão”. Ou seja, é o ato de menosprezar alguém ou um povo por ele ter hábitos e uma cultura diferente da sua.
O cientista político Fernando Abrucio, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que esse tipo de discurso do vereador está ligado à multiplicação da desigualdade em nosso país. “Isso ocorre também em outros cenários brasileiros, como o da relação entre patrões e empregadas domésticas, entre turistas e vendedores de picolé na praia, todos interligados por distinções de renda, região, escolaridade, cor e outras”, afirma.
Mas o problema está longe de ser comum só no Brasil. Mundo afora, povos refugiados* também costumam sofrer com a xenofobia. A empresária Roberta Bufarat, brasileira, é casada e tem três filhos com um libanês que chegou por aqui há dez anos – o povo árabe é comumente associado a atos terroristas por conta dos conflitos internos no Oriente Médio. “Meu marido tem traços bastante definidos e, quando está com outros amigos árabes, ouvimos comentários do tipo: ‘dessa roda pode sair uma bomba a qualquer momento’. A xenofobia é lamentável”, completa.
*Pessoas que sofrem com perigos e violação de direitos humanos em seus países (devido a guerras, conflitos religiosos etc.) e buscam melhores condições de vida em outros lugares.
No Brasil, atualmente, vivem mais de 65 mil refugiados. As nacionalidades mais presentes por aqui são venezuelanos, sírios, senegaleses e angolanos. Na edição 34 da Qualé, contamos mais sobre eles.