Brasil

“Leitores precisarão ser ainda mais críticos diante da inteligência artificial”

Para a pesquisadora americana Torrey Trust, professores não devem ignorar as ferramentas de Inteligência Artificial

Por: Fabrícia Peixoto

31/03/2023 18:13 atualizado há 1 ano

Imagem “Leitores precisarão ser ainda mais críticos diante da inteligência artificial”
Créditos da imagem: iStock e arquivo pessoal.

Não, esse texto não foi redigido pelo ChatGPT, mas… Será que poderia ter sido? Desde que a ferramenta de inteligência artificial foi lançada, em novembro do ano passado, muitos de nós passamos a nos questionar sobre as possibilidades e riscos da nova tecnologia. “Eu pergunto: se uma ferramenta de escrita de inteligência artificial pode fazer a tarefa que o professor passou ao aluno, por que o aluno deveria fazê-la?”, questiona Torrey Trust, Professora Associada de Tecnologia de Aprendizagem da Universidade de Massachusetts Amherst, nos Estados Unidos e que há anos vem pesquisando a relação da educação diante de novas possibilidades tecnológicas. Confira abaixo sua entrevista para o site da Qualé:


Qualé: A nova geração de Chatbots, como o ChatGPT, é realmente disruptiva – ou é mais do mesmo?

Torrey: O chatbot GPT é, de fato, o modelo de linguagem baseado em deep learning (ou aprendizagem profunda, em tradução livre) mais avançado até hoje. Até então esse tipo de ferramenta estava restrito aos laboratórios de pesquisa e, agora, está disponível ao público em geral. E essa história não termina aqui. Estamos apenas começando a descobrir como interagir com a Inteligência Artificial (IA) de forma a melhorar sua performance, sua linha de pensamento, criatividade, comunicação, suas interações e aprendizado. 


Alguns distritos nos Estados Unidos, como Seattle e Nova York, proibiram o acesso ao ChatGPT. Eles são apenas os primeiros de uma sucessão de restrições no país? Essa reação pode ser um tiro no pé?

Acho que os distritos que proibiram o acesso ao ChatGPT foram precipitados, sem considerar algumas implicações dessas proibições. Os alunos que dependem da rede de Internet e de dispositivos de propriedade da escola, não poderão acessar o ChatGPT. Já os que não dependem da estrutura escolar, os de renda mais alta, terão total liberdade. Isso pode criar uma discrepância e um abismo digital entre estudantes em uma mesma sala.


Além disso, há benefícios no uso do ChatGPT, como no caso de estudantes com dificuldades de comunicação ou com deficiências de linguagem. A proibição dessas ferramentas prejudica desproporcionalmente esses alunos. Particularmente, espero que as escolas e os distritos gastem mais tempo analisando criticamente as tecnologias de IA antes de bani-las ou de adotar ferramentas contra plágios às pressas. 


Qualé: Quando o Google foi lançado, muitos profissionais (inclusive nós, jornalistas) tememos o impacto em nossas carreiras. Com o tempo, porém, houve uma adaptação. Isso vale para os educadores também, diante da IA? 

Muitas tecnologias carimbadas como disruptivas, na verdade, permitiram aos educadores ter mais tempo e dedicação à parte mais crítica e criativa de seu trabalho. Por exemplo, em vez de ensinar aos alunos fatos específicos, os educadores puderam propor a pesquisa prévia das informações do conteúdo (usando a Internet, por exemplo) e, a partir daí, construir o debate e análises em sala de aula. Na matemática, a memorização da tabuada deu lugar ao uso de calculadoras para resolver equações matemáticas mais avançadas. 


Contudo, na sua forma atual, o ChatGPT não é confiável como uma fonte de informação em si. A ferramentas ainda apresenta falhas consideráveis, como a invenção de informações (fenômeno batizado de alucinações) e a produção de conteúdo tendencioso. Acho que o melhor uso dessas ferramentas gira em torno dos aspectos mais criativos da comunicação, como no brainstorming, na formação de ideias e no apoio à reescrita de textos. 


Como todas essas mudanças recentes estão relacionadas à educação midiática e à forma como as pessoas consomem notícia?

No momento, é sabido que as ferramentas de escrita de IA podem simplesmente inventar informações. Na pior das hipóteses, elas podem ser usadas ​​para criar desinformação em um ritmo ainda mais rápido do que antes. Ou seja, os leitores precisam ser ainda mais críticos sobre a informação que consomem. Checar credibilidade, precisão e veracidade das informações que encontram online agora é mais importante do que nunca. E aprender a diferenciar o conteúdo gerado por IA e o conteúdo gerado por humanos também se tornou urgente. 

Você tem uma rede de contatos que inclui muitos professores. Qual a sua percepção sobre as reações deles em relação ao ChatGPT?

Eles basicamente reagiram de três formas diferentes. A maioria entrou em pânico, o que levou a proibições e práticas antiquadas, como a adoção de exames orais e de detectores de plágio. Uma outra parcela ficou entusiasmada com as possibilidades a partir do uso do ChatGPT. Mas o alerta neste caso é o risco de se adotar uma ferramenta às cegas, sem sequer ler a política de privacidade e os termos de uso. 


Um terceiro grupo viu esse lançamento como uma oportunidade para uma reflexão sobre o significado e o impacto desse chatbot no ensino e na aprendizagem. Formou-se um debate sobre a reavaliação da forma de trabalho e avaliação de alunos de modo que não pode ser burlada pelo ChatGPT. Espero que este último grupo aumente e esta abordagem prevaleça, porque as ferramentas de IA não vão desaparecer. Ao contrário, já estão profundamente enraizados em nossas vidas e outras mais irão surgir.


Em uma entrevista recente, você mencionou que provavelmente os professores precisarão se adaptar, repensar suas práticas. Como?

Exatamente. Eu pergunto: se uma ferramenta de escrita de IA pode fazer a tarefa que o professor passou ao aluno, por que o aluno deveria fazê-la? É inadiável repensar as tarefas propostas e considerar como podem mudar suas práticas de forma a incorporar a IA para a enriquecer a criatividade, comunicação e aprendizagem, sem o uso dessas mesmas ferramentas como um atalho para burlar o projeto educacional proposto. 


Parece que os professores não têm folga. Após anos de pandemia, que os obrigou a adotar uma série de ferramentas para viabilizar o ensino à distância, online, o mundo da Educação sofre novo impacto. Podemos esperar que Educação e tecnologia tenham mais simbiose?


Professores que já adotavam novas tecnologias com o objetivo de melhorar seu trabalho, saíram-se muito melhor na transição para o ensino remoto de emergência no início da pandemia. A previsão para o futuro é de aumento de desastres naturais e outras emergências de várias naturezas que exigirão o fechamento de escolas (cito, por exemplo, os tiroteios em escolas).  Soma-se a isso o contínuo avanço da tecnologia em ritmo cada vez mais acelerado. Portanto, os educadores não podem se dar ao luxo de ignorar o uso da tecnologia para o ensino. Eles precisam se preparar para ensinar em qualquer ambiente, seja presencial, online, híbrido ou misto, e a qualquer momento. Além disso, eles precisam ser capazes de ajudar seus alunos a fazer o mesmo.



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