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Dormir bem é essencial para aprender, crescer e ter qualidade de vida
Você sabia que passamos boa parte da nossa vida dormindo? Se considerarmos uma média de sono de oito horas por dia, podemos chegar a dormir 24 anos! É bastante tempo, né? Por isso, cuidar bem do nosso sono é essencial. Noites maldormidas podem afetar o humor, a capacidade de aprender e causar doenças, como problemas no coração e obesidade, e até atrapalhar o crescimento.
“As funções cerebrais dependem de um bom sono, assim como a execução de tarefas. Todo ser vivo precisa de momentos de descanso”, explica Gustavo Moreira, pediatra do Instituto do Sono. É quando estamos dormindo que a “mágica” acontece: o cérebro organiza as informações que adquirimos durante o dia e as guarda na memória. Ou seja, o sono é também um momento de aprendizado.
Além de equilibrar as funções do organismo, dormir libera substâncias que nos ajudam a crescer e a desenvolver os órgãos. Segundo o pediatra Moreira, o que muda é a quantidade de horas de sono por idade.
“A variação entre as pessoas é grande, mas não pode passar de duas horas a menos ou a mais do que o indicado. Se conseguir criar um hábito, a criança vai ser um adulto que dorme bem”, explica. A Associação Brasileira do Sono estima que 60% dos brasileiros dormem menos de sete horas por dia, o que não é indicado.
Nos Estados Unidos, a Academia Americana de Pediatria recomenda que as aulas comecem às 8h30 para não comprometer a rotina de sono dos estudantes. Aqui no Brasil existe um movimento de profissionais da saúde e educadores para que, ao menos as aulas do Ensino Médio, comecem no mesmo horário, mas esse objetivo não foi alcançado.
A importância da rotina
Chegou a hora de ir dormir e é preciso dar aquela desacelerada no ritmo. Desligar as luzes e telas, fazer xixi, escovar os dentes, colocar um pijama ou roupa leve. Tem gente que adora ler um livro, outros acham que o negócio é conversar. E o seu ritual do sono, qual é?
Com horários diferentes para entrar no Colégio Nossa Senhora do Rosário, na Vila Mariana, em São Paulo, as irmãs Heloísa, de 11 anos, e Mariana, de 7, que ocupam o mesmo quarto, precisam se ajustar uma ao tempo da outra.
Helô acorda às 6 horas e, para não despertar a irmã, que entra um pouco mais tarde na escola, usa uma lanterninha para encontrar suas coisas. À noite, elas deitam juntas, por volta das 21 horas. Mas nem sempre é fácil desacelerar. “Se eu estou um pouco mais ansiosa, demoro para dormir”, conta a mais velha. Mas, quando a irmã apaga a luz, é Mariana que pega uma luzinha para ler seu livro.
Já Bento, de 8 anos, que estuda na Peak School, na Bela Vista, também em São Paulo, combinou com a mãe de ir dormir sempre às 21 horas. Porém, como gostam de bater papo na cama antes de “desligar”, anteciparam o ritual para as 20h30. “Eu não consigo deitar e já apagar em seguida. Só o meu pai que dorme de uma hora para outra”, diz Bento. Quando não conversam, mãe e filho leem juntos.
Sofia, de 10 anos, aluna do Colégio Santa Cruz, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, conta que não gosta muito de ler antes de dormir. Mas faz questão de que a mãe ou o pai esteja perto dela. “Me sinto mais segura, porque às vezes tenho medo de ficar sozinha.” Especialistas afirmam que a principal dica para acostumar o organismo a ‘desligar’ é seguir uma rotina antes de ir deitar. Esse conjunto de regrinhas é chamado de higiene do sono.
Você sabia?
Cultivar bons hábitos de sono pode aumentar sua expectativa de vida. Para os homens, esse crescimento pode chegar a quase 5 anos. Já para as mulheres, o número é um pouco menor: 2,5 anos*.
HORMÔNIO DO SONO
A melatonina é um hormônio natural que regula o relógio biológico do corpo, ou seja, informa ao cérebro quando é hora de dormir e quando é hora de acordar. É produzida pela glândula pineal, localizada no cérebro, e é liberada em ambientes escuros.
CICLO CIRCADIANO
É o que conhecemos popularmente como “relógio biológico”. Esse mecanismo interno está presente em todos os seres vivos e mantém nosso corpo funcionando de acordo com suas necessidades e nossa rotina.
Entre sonhos e pesadelos
Não dá para falar de sono sem lembrar dos sonhos. Bons ou nem tanto, fato é que eles acontecem para que a gente consiga processar mais profundamente em nosso cérebro alguns acontecimentos do dia. “Vamos supor que você veja um gatinho machucado na rua durante o dia e que essa cena deixe você triste. É possível que isso apareça no seu sonho, mas de uma forma diferente”, explica Letícia.
Soster, neuropediatra e responsável pelo Laboratório de Sono Infantil do Instituto da Criança e do Adolescente. Ela explica que os pesadelos funcionam da mesma forma, só que com componentes negativos. “Todo mundo tem pesadelos eventuais, isso não é um problema. Eles se tornam um problema quando são muito recorrentes e atrapalham a rotina das pessoas.”
Para Indra, de 11 anos, aluno do 6o ano da Emef Rodrigues Alves, na Parada Inglesa, em São Paulo, sonhar é como “conseguir ver a imaginação”. Ele conta que já teve muitos pesadelos quando era mais novo. “Eu via um buraco colorido que me sugava, esse sonho acontecia muito. Tinha também o de uma porta que ia abrindo bem devagar e de lá saía um bicho muito rápido, era assustador. Mas agora eles diminuíram”, afirma.
Maria Antônia, de 11 anos, estudante do 6o ano do Colégio Bandeirantes, também em São Paulo, diz que sonha muito, mas não se lembra de nada no dia seguinte. Ela ainda costuma falar enquanto dorme, surpreendendo os pais. “Teve uma vez em que ela começou a brigar com alguém e levantou a voz, usando palavras que nunca ouvimos ela falar acordada”, relembra a mãe, Carolyne Maciel. E por que será que algumas pessoas falam enquanto dormem? Segundo Soster, não há uma explicação científica para isso, mas é bem provável que ela esteja sonhando. ZZZZZZZZZZ…
Eu, sonâmbula?
Vira e mexe, Giovanna, de 11 anos, estudante do Centro Educacional Pioneiro, na Vila Clementino, em São Paulo, senta na cama durante a noite e começa a falar. Levanta, revira coisas e até dá uma circulada pela casa. “Mas eu não me lembro de nadinha”, conta.
Quem sabe de tudo mesmo é a mãe, Luana Barros, ressaltando que as noites costumam ser bem tumultuadas: “Ela chega a conversar, mas dá para perceber que está dormindo”. Esse é um caso de sonambulismo, que não existe só nos filmes. Trata-se de uma parassonia, um evento que acontece durante o sono em seu estágio mais profundo, o de ondas lentas, chamado de não-REM.
“Nessa fase, o nosso cérebro fica muito lento, o sono é mais profundo, por isso é mais difícil de acordar mesmo com barulhos altos. No sonambulismo, um pedaço do cérebro fica mais acordado do que o outro – nesse caso, o da frente (lobo frontal) dormindo, e a parte posterior acordada”, informa a médica Letícia Soster. Ela lembra que a pessoa sonâmbula não tem consciência do que está fazendo, mas é capaz de executar tarefas simples, como caminhar e falar. O sonambulismo é mais comum em crianças de até 12 anos. Por isso, é importante manter o espaço seguro para que elas não se machuquem.
Esse tal sonambulismo
SINTOMAS
Sentar-se na cama de olhos abertos.
Levantar para comer sem despertar.
Falar coisas sem sentido sozinho.
Mexer em objetos e deixá-los cair.
Não se lembrar de nada depois de acordar.
CAUSAS
Ainda não são comprovadas pela ciência, mas em crianças o sonambulismo pode estar relacionado ao processo de desenvolvimento do cérebro.
QUEM PODE TER?
Mais comum em crianças de 5 a 12 anos e tende a sumir na adolescência. Em adultos está mais relacionado ao estresse. É genético. 15% a 40% das crianças nessa faixa etária já tiveram ao menos um episódio de sonambulismo.