Escola
Do Banimento ao Diálogo
A Nova Lei de Celulares e a Educação Midiática

A recente sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto de lei que restringe o uso de celulares nas escolas de todo o país a partir de 2025 reacendeu o debate sobre a presença de dispositivos móveis no ambiente escolar. A nova legislação veta o uso dos aparelhos durante as aulas, intervalos e recreios, exceto quando utilizados com intencionalidades pedagógicas sob orientação dos educadores ou para garantir a acessibilidade e inclusão de estudantes com deficiências.
Embora a lei defina restrições, ela não detalha como as escolas devem implementar essas medidas. Cada instituição terá autonomia para decidir, por exemplo, se os celulares serão mantidos nas mochilas ou recolhidos pelos professores. Envolver os próprios estudantes nesse processo pode torná-lo mais educativo e menos impositivo, incentivando a corresponsabilidade e o engajamento.
A nova legislação tem como principal argumento melhorar o desempenho acadêmico e as relações interpessoais dos estudantes. Para apoiar essa transição, o Ministério da Educação (MEC) planeja ações formativas voltadas às escolas, famílias e aos próprios estudantes, promovendo um entendimento mais profundo sobre sua implementação. É fundamental que todos os envolvidos participem desse processo, garantindo que a medida seja eficaz no contexto educacional.
A proibição do uso de celulares nas escolas não é um fenômeno isolado. Em países como a Austrália, preocupações com o impacto das redes sociais sobre os jovens levaram à adoção de medidas ainda mais rigorosas, como restringir o acesso de menores a plataformas como Instagram e TikTok. Tais iniciativas buscam proteger os adolescentes de problemas como ansiedade, depressão e exposição a conteúdos prejudiciais.
O psicólogo Jonathan Haidt aborda esses temas em seu livro "A Geração Ansiosa", no qual destaca que o uso excessivo de celulares e redes sociais está diretamente relacionado ao aumento de problemas emocionais entre os jovens. Haidt argumenta que limitar o acesso irrestrito a essas tecnologias é uma medida de saúde pública.
Vale ressaltar que essa restrição dos aparelhos não inviabiliza a formação digital de crianças e jovens, que deve ser promovida por meio de um diálogo constante entre pais, escolas e estudantes. Nesse contexto, a educação midiática emerge como uma ferramenta essencial. Ensinar os estudantes a compreender as mídias, identificar desinformações e analisar criticamente conteúdos são habilidades fundamentais no século XXI.
O currículo escolar precisa incorporar uma abordagem integrada que explore não apenas o mundo digital, mas também outras formas de mídia, como jornais e revistas. Trabalhar com textos jornalísticos em sala de aula, por exemplo, é uma maneira eficaz de conectar os estudantes ao mundo real e incentivá-los a debater temas atuais.
Essa discussão, no entanto, não pode ser restrita às escolas. Os pais têm um papel crucial ao estabelecer limites para o uso de dispositivos móveis em casa, incentivando a leitura de livros, jornais e revistas. Por outro lado, as escolas podem liderar o processo de educação midiática, criando projetos que integrem o uso consciente das mídias.
O uso de celulares nas escolas é apenas a ponta do iceberg em uma discussão maior sobre como preparar os jovens para os desafios de um mundo cada vez mais conectado. Pais e escolas têm a responsabilidade de transformar essa realidade. O momento de agir é agora. Somente com esforços integrados será possível garantir que os jovens estejam preparados para os desafios de um mundo em constante transformação.
Claudia Lima Gabionetta é pedagoga com vasta experiência em sala de aula e educação inclusiva. Pós-graduada em Educação Infantil e certificada como especialista em Educação Midiática pelo Instituto Educamídia. Atualmente é coordenadora pedagógica da Revista Qualé e autora do livro “Crianças e Jovens Conectado: Educação Midiática na Era da (des) informação”.
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